terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Reflexões sobre o Salmo 1:1-2

Compartilhei este estudo com alguns irmãos no ano passado, em um centro de recuperação para viciados em drogas mantido por um dos membros da nossa igreja.

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vs 1. “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”.

O Salmo começa falando sobre o bem-aventurado, que significa “feliz” no sentido mais rico do termo. Devemos buscar essa genuína felicidade, que só pode ser encontrada em Deus. Nosso problema hoje não é o excesso da busca pelo prazer, de felicidade, mas o oposto. Nos perdemos em coisas terrenas, em “prazeres” transitórios, e negligenciamos a única fonte que pode nos fazer felizes no sentido mais completo da palavra.

Certa vez C.S. Lewis disse:
Se considerarmos as promessas pouco modestas de galardão e a espantosa natureza das recompensas prometidas nos evangelhos, diríamos que nosso Senhor considera nossos desejos não demasiadamente grandes, mas demasiadamente pequenos. Somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições, desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia. Contentamo-nos com muito pouco.
Deus quer que seus filhos sejam felizes nEle, e essa felicidade começa na nossa conversão, onde ansiamos por Cristo, nossa fonte de alegria.

Agora, quais são as características desse homem feliz, bem-aventurado?

O salmista primeiramente descreve esse homem em termos negativos, mostrando o que ele não faz.

Ele não anda no conselho dos ímpios. Aqui estamos tratando da esfera do pensamento pois todos os pecados começam na mente. Satanás sempre nos tentará a partir da mente, pois é nela que a batalha é travada. Assim foi com Eva, que ouviu o conselho da serpente. O conselho dos ímpios pode ser direto ou indireto. Geralmente ele é indireto, por meio de filmes, propagandas na televisãoou em revistas; outras vezes ele é mais direto, por meio de um colega de trabalho ou de aula. Aqui, neste nível – “conselho dos ímpios”, a perversidade não se exteriorizou ainda, mas é o primeiro passo em direção ao abismo.

Esse homem bem-aventurado também não se detém no caminho dos pecadores. Isto é, ele não se torna partidário dos seus caminhos, não vive da mesma maneira que os ímpios. Se você der espaço para o conselho dos ímpios, logo estará se detendo no caminho dos pecadores, fazendo o que eles fazem, pois o seu comportamento será moldado pelos princípios do mundo.

O homem bem-aventurado também não se assenta na roda dos escarnecedores. Isso significa que ele não se associa com os ímpios. Se você der espaço para o conselho dos ímpios, logo estará andando como eles e, finalmente, estará assentado com eles, escarnecendo e rindo daquele homem que procura viver seus caminhos de acordo com a Palavra. Aqui a pessoa começa a cometer pecados sem restrição, pois perdeu o temor de Deus e crê que ficará impune de seus atos.

Nessa primeira parte do Salmo 1, o que o salmista quer dizer é que premissas falsas – pontos de partidas falsos – gerarão conclusões falsas e atos errados. O conselho dos ímpios gerará, obviamente, atos ímpios. Podemos concluir desse versículo que o conhecimento errado gera práticas erradas, mas o conhecimento correto proporciona uma prática correta. Por exemplo, se você aceita a idéia ímpia de que vencer na vida é ter um bom emprego, dinheiro e um certo status, você vai começar a buscar essas coisas. E, no fim, você não apenas buscará o que esse mundo diz ser certo, mas rirá (mesmo que não o faça abertamente) daquele cristão que crê que ter uma vida de vitória é viver em obediência a Deus, buscando conhecer Sua Palavra para poder espalhar o evangelho às ovelhas perdidas.

É por esse motivo que Paulo nos exorta, em Romanos 12:2, a não nos conformarmos com este século (com o sistema deste mundo caído), não corrermos atrás do que os ímpios correm. Antes, devemos nos transformar. Mas como? Pela renovação da nossa mente. E a que isso leva? A experimentarmos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Resumindo: o conhecimento correto vem antes da prática.

O salmista não para nos primeiros versos, mostrando o que o justo não faz, mas agora começa a descrever o que ele faz.

vs. 2. “Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Spurgeon diz:
Talvez alguns de vocês alegam um tipo de pureza negativa, pois não andam nos caminhos dos pecadores; mas deixe-me lhe perguntar – o seu deleite está na lei de Deus? Você estuda a Palavra de Deus? Você faz disso o varão da tua mão direita – seu melhor companheiro e constante direção?
Precisamos olhar para alguns termos deste segundo versículo para compreendê-lo melhor.

O escritor inspirado fala em lei/Torá, que, basicamente, que dizer diretriz divina. Torá seriam os livros escritos por Moisés, também conhecidos como Pentateuco. Entretanto, “quando Davi fala de lei, não se deve deduzir como se as demais partes das Escrituras fossem excluídas, mas, antes, visto que toda a Escritura outra coisa não é senão a exposição da lei, ela é como a cabeça sob a qual se compreende todo o corpo. O profeta, pois, ao enaltecer a lei, inclui todo o restante dos escritos inspirados” (Calvino).

Logo após, ele fala em meditar na lei, pensar sobre ela, ponderar seu significado, estudá-la diligentemente. É a contemplação mental da lei divina. Kidner explica que “a mente foi o primeiro baluarte a ser defendido, no versículo 1, e é tratada como a chave para todo homem. O Salmo contenta-se em desenvolver esse único tema, implicando que seja o que for que mude o pensamento de um homem, muda sua vida também”. Ver Josué 1:8 e Deut. 6:6-7.

Essa meditação na lei de Deus ocorre de dia e de noite. Aqui vemos a importância da memorização da palavra (Salmo 119:11), pois, de outra forma, como poderemos meditar nela durante o dia inteiro? O que é ter comunhão constante com Deus? É quando Ele fala com você através da Palavra dele (seja na leitura diária ou na memorização e repetição), e quando você, em resposta, O adora, O admira pelas coisas que Ele diz, prestando culto a Ele.

Mas nada disso é penoso. Antes é um prazer. Deve ser um prazer se achegar à Palavra, estudá-la com diligência, com a mente disposta, alegrando-se nas suas instruções e não vendo nada mais precioso do que isso (Pv 3.13-15).

Quando Deus nos converte, Ele cria em nós um gosto diferente, um gosto pelas coisas espirituais, que vê Cristo e Sua Palavra como um tesouro precioso, sem igual.

Como diz Piper,
a conversão é o que acontece no coração quando Cristo se torna para nós uma arca do tesouro de alegria santa. A fé salvadora é a convicção do coração de que Cristo é totalmente confiável e supremamente desejável. O que há de novo em um convertido ao cristianismo é o novo gosto espiritual pela glória de Cristo [e, consequentemente, pela Sua Palavra].
Reflexão

A maioria das pessoas (incluindo nós) enfrenta lutas e dificuldades quando vai estudar a Palavra ou memorizá-la porque não acha prazer nela. Existem outras coisas que desejam mais: filmes, esportes, trabalho, etc.

Das duas, uma: ou não são convertidas e precisam se arrepender para a salvação, para que Deus as conceda fé e gere nelas um gosto pelas coisas espirituais, a fim de que se acheguem verdadeiramente a Cristo; ou elas têm falhado no processo de santificação, deixando a carne falar mais alto.

Todos nós, cristãos, lutamos contra isso, pois, apesar de sermos novas criaturas, por causa do pecado somos inclinados às coisas da carne. A solução é arrependimento, oração e leitura da Palavra.

Resumindo o que o Salmo diz, o que distingue o cristão do ímpio? O último presta atenção ao conselho do mundo, enquanto o cristão se deleita e pensa na Palavra. “A Bíblia diz que nossos pensamentos nos definem, e ela é o ponto de partida a partir do qual a totalidade das nossas vidas é derivada. Portanto, que aqueles que professam o nome de Cristo cessem de se prostituir com a sabedoria deste mundo” (Cheung), e mostrem a contradição que existe entre os ensinamentos bíblicos e os sistemas mundanos.

Estudemos diligentemente a Palavra, para podermos discernir o conselho deste mundo e rejeitá-lo, pois “as más companhias corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33).

Saulo Rodrigo do Amaral

4 Comentários:

Jair Kunzler disse...

Great! Glória a Deus!

Anônimo disse...

O versículo final está referenciado erroneamente. A passagem biblíca não está em Coríntios 13 e sim cap. 15. Abraço

Saulo R. do Amaral disse...

Muito obrigado!

Anônimo disse...

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